SALA DE ESTUDOS

[88] 15/02/2018

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Em cada novo encontro, o que é refletido de nosso passado? Tal pergunta pode ser perigosa, pois afirma de antemão que algo é refletido, ainda que não se saiba o que. Outra pergunta então seria: é possível um novo encontro se dar livre das marcas do nosso passado, de expectativas interessadas e traumas que nos afastam (dos outros e de nós mesmos)? Não somos livres: nosso corpo leva as marcas de outros combates, o peso das memórias e nelas o que guardamos como acertos e erros; e mesmo as danças alegres que dançamos, mesmo essas deixam calos em nossos pés. Somos feitos dos encontros de outrora, mas também da possibilidade de, sabendo de nossas tendências, desviar para algo novo. Esse novo, todavia, não seria algo essencialmente inédito, mas uma reorganização dos possíveis, criando um improvável. O que seria improvável em meus novos encontros? Que eu ficasse falante ao invés de receoso? Que eu ouvisse mais ao invés de me projetar em excesso? Que eu me possibilitasse ao invés de desconfiar? Que eu equalizasse ao invés de me jogar sem ressalvas? Pois, se o passado passa sempre, a cada segundo, estamos a todo momento nos remarcando, nos ressignificando. Não sou livre para fazer qualquer coisa de minha vida, uma vez que a cada um cabe determinadas restrições: anatômicas, fisiológicas, geográficas, culturais, econômicas, afetivas, entre tantas outras. Mas para não jogar ao abismo a palavra liberdade, e substituí-la por uma outra que nos restringiria (ainda mais), prefiro isso: somos livres. É como reafirmar o mito da liberdade, para fazer dele um amigo – uma amiga, em verdade. E ela seria uma companheira de viagem, que segue a nos dizer que somos livres para escolher entre as possibilidades que nos são possíveis e, nessas escolhas, caminhar em direção ao improvável. E assim, de improvável a improvável, podemos fazer do impossível uma possibilidade: o impossível é local e minhas restrições são espaço-temporais. Mudança: somos livres para escolher como podemos nos jogar nessas danças.

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