SALA DE ESTUDOS

Desviar da representação

Seguimos, com ênfase ao pensamento de Deleuze, em fragmento do texto “Corpo Potencial: autoficção de um tornar-se o que se é”, que compõe o conjunto da dissertação (seguimos na sequência da nota anterior, sobre os encontros).

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Quinto ponto: desviar em direção aos possíveis pela via do improvável

Como modo de não inserir-se no tempo enquanto corpo-função, gesto efetivado em um fim (não direcionado à uma causa, um fim em si), é preciso desviar da recognição, do retorno ao Mesmo (DELEUZE, 1988). Estamos sob o céu do acaso, onde impera o jogo, onde a chance se apresenta como o sempre possível, improvável, inocente, não buscado, ainda assim, expectado: um outro intensivo e provisório a nos esperar (NIETZSCHE, 2005). A via para essa individuação (SIMONDON, 1993), um devir-outro, é a disposição ao acaso, e afirmá-lo, através do jogo.

 

Sexto ponto: afirmar o jogo entre Apolo e Dionísio

Estamos então entre “dois corpos”: o corpo estratificado do sujeito e o corpo intensivo, fluxos do Corpo sem Órgãos (DELEUZE E GUATTARI, 1996). Para esta relação associamos, ao segundo, o devir trágico dionisíaco, como forças que atravessam o CsO; e ao primeiro, as aparências que se manifestam, que se constituem para amparar a vida — imagens apolínias, como estratos que nos possibilitam partilhar uma vida em sociedade, e não se precipitar ao abismo (NIETZSCHE, 2005). A estas imagens ainda associamos a relação entre instintos e instituições, sendo as segundas um modo de condução das energias que pulsam nos corpos (fluxos e contenções nos estratos que formam as instituições e nisso sujeitos); fluxos: paixões dos corpos que passam a ser conduzidos pelas práticas instituídas (DELEUZE, 2006b).

O CorPo, então, se dispõe entre, reafirma essas tensões, se experimenta, com prudência, para que o corpo não se restrinja aos estratos, não se defina por identidades fixas, e não cesse assim seus fluxos; e, por outro lado, não seja demasiado vertiginoso na produção de linhas de fuga, não produza linhas suicidas (DELEUZE e GUATTARI, 1996). O CorPo é esse experimentador: coloca-se em movimento através do jogo; repetimos: é ao mesmo tempo jogador, espaço de jogo e matéria em movimento.

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