Mas talvez essa introdução não esteja cumprindo seu papel — ou possivelmente, sendo fragilmente executado. É provável que a amarração do conjunto tenha deixado no seu entorno muitas pontas soltas, e que seu conteúdo se pareça mais com o Odradek de Kafka do que com o Cogito de Descartes. Mas se trata de uma Introdução ao modo de uma introdução ao método: e se os procedimentos adotados aqui, como parecem apontar a pesquisa-texto, se constituem num Método Labiríntico em jogo? Aqui nos encontramos: entre bifurcações e encruzilhadas, sobre um mapa que passa a existir somente no presente atualizando-se na caminhada-escrita, e que sempre corre o risco de apagar-se a nossas costas. Soma-se a esse labirinto (compreendido enquanto um labor interno) uma poética: invenções desdobradas via autoficção, produzidas numa escrita que se escreve ao (es)correr pela superfície de seus dias. Como introduzir tal pesquisa, então?
Performando o exagero em escrita, diríamos que essa pesquisa-texto não opera sobre um tema específico, mas é empreendida nos transcursos de movimentos variados, os quais a toma de assombro e, em desequilíbrios passa-se a titubear em direções múltiplas: facilmente demarcado como dispersivo, provavelmente considerado no desfeito do “falta um recorte”, inevitavelmente exagerado — mas assim é solicitado pela vida desmedida, por hora ocupada nesta pesquisa. Mais prudentes, diríamos não se tratar de um exagero, mas justamente de um pulo cauteloso e planejado, que assim se fez necessário pelo cuidado que deve ter quem joga com o improviso: que precisa de saltos em amplos territórios desconhecidos e ainda, em cálculos precisamente estudados, aparecer e desaparecer. Políticos, diríamos se tratar, sobretudo, de uma ética, que resiste a imposição de reduções via modos de pesquisar que se apartam de significativas parcelas da vida em prol da energia dirigida ao objeto de estudo — lançando para a periferia o que “não importa”, e suprimindo neste feito significativa vitalidade corporal, e diminuindo assim sua potência de agir. Transgressores, diríamos se tratar de prazer, de fruição do texto via pesquisa, de amores que esquentam as frias paredes institucionais, pois não querem se restringir entre as quatro paredes de seu quarto; então, não capazes de se comportar, jorram por onde passam. Intelectuais, diríamos se tratar de uma escolha que não pode ser explicada, pois o que a fundamenta é justamente o que não se sabe, uma vez que tal escolha não é a reafirmação de saberes da ordem de um indivíduo, tampouco determinada por ele, mas a força da convocação de um desconhecido, que se encontra sempre um passo a nossa frente.
Desse modo, a escrita não está aqui a operar sobre suposições acerca de um objeto de estudo, uma escrita que funcionaria como instrumento da investigação: ela é aqui a própria pesquisa, ao mesmo tempo objeto e processo, matéria e expressão: uma escrita em jogo que improvisa a todo momento uma outra realidade (ou assim intenta), na qual passamos, enquanto outros-eu-nós, pesquisadores, a habitar. Nos ocorre agora que o texto desta pesquisa se compõe em algo como uma escritaria.