SALA DE ESTUDOS

COMO CHEGAMOS ATÉ AQUI

        Todavia, essa pesquisa se inicia num empreendimento de estudar o improviso; assim, entende o jogo como um método para a produção da improvisação, e por essa via, na pesquisa, pensa-se a constituição de um Corpo Potencial como este que faz de si boas composições ao entrar nesses jogos (muitos jogos dos quais fizemos parte sem perceber); um corpo que, ademais, cria seus próprios jogos; e uma educação que produz espaços potentes (consideramos então a didática) na criação de condições para que a criação aconteça: colocando coisas em jogo (e aqui é importante mencionar o currículo), deslocando assim os corpos e vitalizando o espaço num jogar. Trabalho da educação, a aula como um labor interno que se constitui de exercícios que preparam esses corpos para o mundo: um mundo que, sem embargo, passa-se a constituir-se no fazer desta aula, numa educação que possibilita que os corpos ali presentes se recriem; ato este que ganha força ao perspectivar o mundo, as coisas e os outros, enviesando-se para ver um mundo possível, como na tangente dos regimes de visibilidade que insistem em nos constituir nos movimentos (por vezes inauditos) da máquina capitalista.

        Tal pesquisa, e suas proposições, compreendem seu percurso do improviso para o jogo, e destes num espaço em processos produtivos (espaços de educação), para o aumento do grau de potência dos corpos – potência para invenções em resistência às versões do mundo que teimam em tentar captar seu potencial para um “bem maior”[1]. Ao explorar esse percurso na pesquisa, precisou-se assumir inevitavelmente o construtor dele próprio, ainda que em ato nem sempre consciente de seus fins (e de certo modo, a própria matéria desta construção): com certa dose de alegria, mesclada com incertas doses de angústias, viu-se empreendido numa agonística da invenção, a qual, por sinceridade ou por compreensão das forças em tese multiplicadas neste ato, foi-se convocado a assumir (o que significou, em muitos momentos, paradoxalmente, sumir-se).

        Assim, compreender, a título de introdução, uma escrita da pesquisa (e pesquisa em escrita, pesquisa-texto) que possibilita ver o que se propõe — que possibilita inventar o que se vê, se a poética da pesquisa tiver força para; não se pretende propor garantias de que um jogo funcione mais do que outros procedimentos; não se intenta mais valia ao improvisador do que ao repetidor da fórmula, e não há endereçamento fixo desta proposta. Contudo, existe uma fé, uma vontade de potência num desejo empreendido no entorno da ideia de uma vida que possibilite os movimentos numa dança onde a todo o momento permuta-se a condução com outros que desconhecemos e que, muitos deles, habitam “nosso” próprio corpo. Assim, ao dançar, nos percebemos, numa virada por vezes imperceptível, em combate: saber conduzir-se nesse processo é constituir-se como um bom jogador — o que significa, muitas vezes, e paradoxalmente, esquecer-se neste jogar.

[1] Acerca deste tema ver Bataille no texto “Corpo Potencial: autoficção de um tornar-se o que se é”, na Dissertação.

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