SALA DE ESTUDOS

HÁ A TENTATIVA DE DESVIAR DE SEUS VÍCIOS

        Justamente, é de um projeto que se trata esta Introdução: projeto de pesquisa de uma dissertação. Há os planos, há a força do empreendimento de uma vida, há a tentativa de desviar de seus vícios, mas de potencializar as vicissitudes: de, nesse eterno retornar, compreender o que ganha força e nos potencializa. É um estar em jogo e tentar observar-se a si neste jogo – feito tão complexo, e talvez tão impossível, quanto pensar o pensamento que se pensa, e que ao pensar, pensa a si.

Suspeito que cada pensamento (que define escolhas, move atitudes e consolida hábitos) tem uma massa. Não tal qual a massa da matéria de nossos corpos, humanos, mas trata-se de corpos. Trata-se, portanto, de energia. Conclui-se então, com Newton, que todo corpo atrai os outros corpos e, quanto maior a massa desse corpo, maior sua atração. Pensamentos-corpos. […] Trata-se de potência de atrair energias e de ser um corpo-caminho possível por onde passa essas possibilidades, um lugar de manifestações, de visibilidades. Seu corpo é obra, é matéria para manifestação da vida, para dar forma ao que, fora, é informe. Seu corpo é acontecimentos.[1]

      Pensamento pensado via linguagem, transcriado via escrita. Processo que pode ser infindável: as conexões transversais que podemos apresentar para esta introdução são tão possíveis quanto nossa capacidade de sobrevoar os textos e, via narrativa autoficcional, produzir sentido que outrora por ventura se quer se desconfiava. Há neste feito, como nos parece também se apresentar nos demais textos deste espaço, um jogo com o leitor – mas ambos aparecem e desaparecem: o escritor imagina um leitor ainda não presente, enquanto o leitor, ao se apresentar, supõe um escritor já desaparecido. De todo modo, consideramos um escritor que lê o que escreve e um leitor que escreve o que lê: complexo de coexistências a proliferar sentidos, dos quais esse texto introdutório não passa de uma arbitrária restrição dos movimentos resguardado dentro de um recorte enviesado – restrição que, mesmo que quisesse, não restringiria os movimentos e seus efeitos reativados no ato da leitura, que transborda este espaço desde o primeiro contato.

[1] Fragmento de texto publicado em 19 de janeiro de 2017: http://diegoesteves.in/escritos/2017/01/19/devaneios-para-sair-do-caminho/

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