SALA DE ESTUDOS

LABIRINTO DE ARQUIVOS

       Nos cabe então, a partir de agora, realizar algumas considerações; é de se registrar que, no entanto, tais considerações poderiam ser encontradas pelo leitor ao tirar suas próprias conclusões da visita aos espaços deste texto, sobretudo, via Sala de Apresentação, que realiza uma espécie de introdução. O que, contudo, justifica nossa presença nesta Antessala  é, então, uma pesquisa ampliada para além dos limites impostos pelas paredes desta construção: essa introdução assim intenta apresentar a matéria que compõe esse espaço num jogo entre o que o antecede e, quiçá, lhe procederá. Para isso buscamos nos arquivos alheios a este texto, mas que de algum modo o constitui (seria como a matéria que compõe a estrutura do prédio, já fundida na atual condição): blocos de notas manuscritos, sítios da internet, projetos passados e presentes e rascunhos avulsos no computador; nosso objetivo então, se fosse possível executá-lo, seria: relacionar os encontros passados, as produções em seus regimes específicos (de tempo e local) e sua reverberação atual-futura – no caso, nesta pesquisa-texto e no que ela pode projetar-se enquanto porvires. Seríamos, se fossemos, como críticos genéticos, pois

Trata-se de um estudo que se depara com um labirinto no tempo, onde tudo é possível: paradoxos e coerências convivem ao longo do processo criativo. Além disso, a linearidade da linguagem revela um labirinto no espaço: pegadas que são deixadas no solo daquele percurso criativo funcionam, para o crítico genético, como espécie de pedras-de-joão-e-maria. Não se pode esquecer, no entanto, que a criação excede os limites da linearidade do código e se projeta em espaços múltiplos. O crítico genético lida, portanto, com a ausência de linearidade e simultaneamente do processo. (SALLES, 2008, p.54).

        Iniciamos então, pois assim nos parece justo, por um manuscrito (datado provavelmente de março de 2018) sob o título “Introdução ao Modo de uma Crítica Genética”. Tal escolha se dá pelas veredas bifurcadas desse jardim labiríntico, ao encontrar nele um texto abandonado, mas que, como numa vertigem, aparece e desaparece como subtexto deste que agora se apresenta em superfície. É preciso considerar ainda que, no momento da escrita do manuscrito, o título da dissertação a qual se vincula esta Introdução ao Método, era “Como criar para si um Corpo Potencial: jogo e improvisação de um educador em cena”, e que foi substituído pelo título “Espaços, corpos e coisas em jogo: para uma educação em improvisação” (o que aconteceu em 26 de junho de 2018, para a Banca de Qualificação, após outro título provisório, em 16 de maio), em prol da consideração de que o que está em jogo não é um educador, porquanto este poderia ser objetivado via certa centralidade de um Eu, mas o que passa neste “todo”, do qual o educador é uma parte, enquanto pesquisador, mas também coisa em espaços, e espaço tornado coisa, enquanto corpo. Por fim, o título assumido, em 2019, foi “Pesquisa-improvisação: educação em jogo”.

        Passamos assim ao referido texto e, após, daremos continuidade à constituição desta Introdução, trazendo, em tópicos, as questões que, assim nos parece, são elaboradas nesta pesquisa; e apresentando assim, o que, tal como supomos, entre miríades, a compõe.

        Esse texto se propõe a introduzir a dissertação tal como se apresentou a nossa leitura. Para tanto nos debruçamos sobre os escritos aqui apresentados, sobretudo, mas também de manuscritos, e-mails, fatos pessoais e mesmo postagens de redes sociais. Acerca dessa introdução é preciso que se faça um alerta ao leitor: o texto que compõe essa dissertação, assim como pode se supor por seu título, apresenta um educador em cena – trata-se, portanto, de uma peça de arte, com seus atributos inventivos, uso de máscaras, jogos de cena (ou seriam passos de mágica? Mais provável que sejam passos de dança). Ainda que, ao falar em máscaras o pensamento nos remeta ao teatro, o mais certo é de se tratar de uma performance circense: malabarística, acrobática, palhacística… É, sem mais delongas, uma cena que vai se compondo em texto assim que o texto vai se compondo. Nesse sentido, a narrativa, feita dos fatos e dos feitos da pesquisa, tal qual vai se desnudando ao leitor, apresenta um drama. Nosso alerta então se justifica neste ponto: ao buscar reconstruir os processos de criação deste texto, apresentando-o como uma introdução, possivelmente fizemos dele uma espécie de release inoportuno do espetáculo: que diz demais, antecipa as surpresas e mesmo pensa explicar o que a peça nem soube ou quis dizer. Ou seja, talvez conduza o leitor em demasia, e não o permita chegar em suas próprias conclusões – em seus próprios lugares, tomando seus caminhos. De todo modo, pode ser muito útil a alguns tipos de leitores, sobretudo aqueles que querem entender os detalhes (mesmo que esse entender signifique ouvir da criação o que ela não disse, afirmando algo onde havia, quando muito, uma dúvida e a suposição de uma pergunta ainda sem força para se pronunciar).

     Assim, a escolha fica por conta do leitor, que pode seguir essa introdução (que se assume arbitrária na tentativa de reconstruir os movimentos da criação) ou seguir, como que junto com os passos do texto em sua escritura, que seria, ser apresentássemos um mapa, deste modo: entre pela Sala de Estudos, onde poderá se encontrar com o drama estabelecido nos pensamentos do pesquisador – e aí supor suas dúvidas e as afirmações provisórias inscritas no corpo do texto (algumas que ganharam força com o tempo e outras que se diluíram na dança com Cronos). Desta Sala de Estudos (onde os fragmentos estão datados por data de criação) pode seguir para a Sala de Textos, desta para a Sala Cênica, passando pela Sala de Aula e outras. Por fim, retorne para essa Introdução (e veja se concorda com nossos pontos de vista).

       Para auxiliar no entendimento do todo deste trabalho ao qual passamos a introduzir, vamos datar o início e fim de cada etapa, de modo a definir os pontos que ocupam o espaço desse mapa – que tentaria descrever um labirinto, se de antemão nos associarmos ao que o texto propõe (ou dramatiza?).

            O manuscrito termina sem citar esse histórico da pesquisa, o que passamos a fazer agora* (alguns títulos expostos aqui se referem a como foram arquivados no computador, são etapas que não aparecem no corpo do dissertação):

  1. 06 de julho de 2017: “E é assim que inicia a escrita” inaugura a Dissertação e o que viria a ser denominado (a partir de 12 de dezembro) como Bloco de Notas. Tal Bloco e a Sala de Jogos, portanto, seguem em criação;
  2. 23 de outubro de 2017: “Compondo os fragmentos em jogo: primeira tentativa”: organização dos primeiros 54 fragmentos escritos;
  3. 24 de outubro de 2017: primeira nota e considerações sobre a apresentação na qualificação;
  4. 16 de novembro de 2017: segunda composição do texto da pesquisa com 61 notas e primeira versão da “nota de leitura”.
  5. 27 de dezembro de 2017: inicia a primeira “dobra-texto”: “O Método Labiríntico” (finaliza em 17 de janeiro de 2018);
  6. 29 de dezembro de 2017: “Notas apócrifas de uma introdução” é escrita e, durante o processo, toma forma a ideia das salas (que apareceu pela primeira na “nota de leitura”, em 16 de novembro);
  7. 31 de dezembro de 2017: “À porta”, texto que se antecede a Antessala, é escrito;
  8. 22 de janeiro de 2018: terceira reorganização do texto e primeira vez com a organização do espaço em salas, com inserção dos textos supracitados e 75 notas;
  9. 19 de março de 2018: “Poética da Notação: inventário de encontros e composição da pesquisa” tem início (e finaliza em 29 de março);
  10. 22 de março de 2018: “Corpo Potencial: autoficção de um tornar-se o que se é” tem início, mas fica “inacabado” (em 28 de março), e recebe o nome de “Em tese, um Corpo Potencial (primeira aproximação)”;
  11. 04 de abril de 2018: “Corpo Potencial: autoficção de um tornar-se o que se é” reinicia em novo texto (finda no mesmo dia, só tendo pequenas inserções citacionais e correções feitas posteriormente);
  12. 04 de abril de 2018: “Didática da improvisação: primeiro inventário do que se trata” é escrito (texto provisório, com algumas considerações iniciais, presente na Sala de Aula);
  13. 16 de maio de 2018: “Nota de Entrada” é escrito;
  14. 16 de maio de 2018: versão atualizada da pesquisa-texto, com título modificado para “Espaços, corpos, coisas em jogo: por potências na educação”, com cinco textos inseridos entre as Salas de Estar, Ensaio e Aula, mais “À porta”, “Notas apócrifas” na Antessala, o texto “Nota de Entrada” e um total de 99 notas na Sala de Jogos, sendo a última escrita no dia 04 de maio;
  15. 19 de maio de 2018: “Introdução ao método” é iniciado. Finaliza em 23 de maio.
  16. 22 de junho de 2018: é criado o protótipo de um espaço na internet para ser habitado por parte dos textos da dissertação, o que vem a ser assumido no dia 26 de junho, quando passa a receber os textos de entrada, antessala e sala de jogos.
  17. 29 de junho de 2018: “Introdução ao método” é dividido em notas (no início era um único texto em 20 páginas) e publicado no espaço da internet.

* Tal histórico se restringe a produção da dissertação até o momento de sua Qualificação.

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