SALA DE ESTUDOS

NOS COMPOMOS EM ESPAÇOS, CORPOS E COISAS

        É este complexo jogo que parece interessar a este estudo: como nos compomos e como fazer deste processo a constituição de espaços (e corpos e coisas) potenciais; espaços esses que criem condições de possibilidade para que a criação aconteça.

Entendo e tomo o corpo (e suas manifestações) como um lugar de passagem, como o lugar de acontecimento, que afeta e é afetado. Com isso, tento me colocar nos contextos onde atuo receptivo a todas as forças que agem sobre ele, respondendo e atuando no sentido da potencialização – não do bom ou ruim, de certo ou errado, mas da potência, uma ética da potência. O que demanda entender os processos, os mecanismos, aceitar o que precisa ser aceito e se engajar em ações concretas, como projetos de vida. O corpo é um lugar de combate, com toda a força necessária para se movimentar, carregando essa matéria que tende ao repouso, à estagnação. A identidade é mais uma representação desta tendência à estagnação.[1]

      Podemos considerar que o sujeito desta pesquisa, tão sujeito à pesquisa que está, se perde no tempo, nos atos, nos feitos. Assumidamente, por coragem, ou por artifício que mascara sua incapacidade de efetivo posicionamento lógico, se apresenta não como indivíduo, mas múltiplo, divíduo; que se constitui dos discursos que o atravessam, da matéria em movimento que o compõe e que, via escrita, inevitavelmente polifônica (mesmo que por vezes constituída de uma mesma voz, mas que se torna outra ao se perder no tempo e retornar), intenta inscrever-se num ato poético: texto que se compõe numa agonística, ainda que insista em rir (há uma fina distância entre dor e prazer e, onde parece que mais nos constituímos como humanos, encontramos o riso e a lágrima).

Compor um jogo-texto-dissertação pensando um jogo-aula; movimentos que ora parecem uma dança, ora um combate: o educador-jogador, o artista-pesquisador, o escritor-improvisador, metamorfoseia-se em malabarista que joga com as matérias-forças, e que também é jogado, que se desfaz das armas, guerreiro, se desfaz sujeito.[2]

[1] Texto de 04 de maio de 2013.

[2] Fragmento do Memorial Descritivo produzido como parte do processo de seleção de ingresso ao Mestrado em Educação. Texto produzido em maio de 2017.

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