DECLARAÇÃO INFORMAL

Minhas certezas não podem ser ditas em palavras, pois quando as digo (as certezas), elas (as palavras), colocam tudo em dúvida. É por isso que escrevo, começo e termino, recomeço, tento anotar o que noto e, por essas passagens de texto, sigo buscando algo que sei que de fato nunca terei entre as mãos. O que coloca as próprias certezas, fruto da intuição ou do instinto, em dúvida. Enquanto tento apreender algo no que passa (passo eu ou passam as coisas por mim?), fujo por essas mesmas passagens, escapo de tantas mãos invisíveis que tentam me prender (o que, provavelmente, não passa de uma paranoia). Posso estar, sem dúvidas, delirando, mas o texto parece ser este estranho lugar de combate e fuga: é escrevendo que escapo (ou tento escapar) das malhas sedutoras da realidade dominante (acadêmica, educacional, artística), enquanto avanço, em postura de combate, sobre a linguagem e corpos que suponho restringir passagens. Nas direções em que sigo nunca sei se estou de fato avançando ou recuando, indo ou voltando, combatendo ou escapando. Ao fim e ao cabo, essas passagens são o meio de uma grande dança, ora ansiosa, ora leve, ora alegre, ora preocupada, e eu espremido pelos sentidos enquanto tento, através deles, alargar estes próprios espaços (o que significa, por vezes, tentar significar o sem-sentido). Experimentos, experiências. É para frente que penso seguir, enquanto, eventualmente, pelas curvas sinuosas deste labirinto, por acaso, retorno aos mesmos lugares. Me repito, me repito, me repito, em reptio, to me rito, re pe mito.

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