Não posso iniciar a escrita sem os livros que tenho para ler. Antes, preciso completar a escrita da frágil lista de livros que não dá conta do conhecimento necessário para escrever o que precisa ser escrito. Preciso, após, ou durante, comprar esses livros para lê-los. Preciso ler, anotar, rabiscar, lembrar de tudo. Preciso ter as ideias, e guarda-las com cuidado, para escrevê-las no momento certo. Preciso esperar o momento da escrita, o momento em que ela chegará, ocupará meu languido corpo, que heroico se agarrou a todas essas informações a espera dela, que vem atravessando a história e a mim chegará, escrevendo e inscrevendo, sob minha autoria, outros textos. E então existirá mais um livro para a lista dos próximos aspirantes a escritores. E assim vamos acumulando conhecimento, sustentando nossas instituições e nossos corpos. Instituindo nosso corpo, preparando-o para que a escrita venha, assim que ela se desocupar de outros corpos que também precisam dela, a escrita, e por ela também aguardam, enquanto se penduram no conhecimento acumulado, para que eles, os quase-escritores, não caiam no erro, não caiam na falha, não caiam na falta, não caiam no esquecimento. Enquanto espero a escrita, aguardo, e escrevo listas, notas de ideias, minhas sensações, alegrias e angústias, toda uma sorte de coisas que acontecem nessa vida enquanto ela, a escrita, se ocupa de outros. Mas ela deve ter uma lista onde eu, devo ser o próximo.