SALA DE ESTUDOS

[86] 05/02/2018

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O Corpo Potencial como este que faz de si boas composições inserindo-se numa narrativa que cria uma realidade a partir de uma apropriação do mundo. Ele é um bom contador de estórias, que por sua vez cria histórias – a verdade (que aqui nada mais pode ser do que uma ficção[inserir link]) como capacidade de criar realidade. E ele é sempre um bom improvisador, pois tem que esquecer [link p esquecimento em Foucault] (ao menos provisoriamente) a estória anterior para que uma nova se dê. É um bom jogador e um bom compositor: joga e é jogado, tensiona e relaxa, corre, recorre, escorre e espera: resiste e insiste, ri, chora, dança, combate e compõe.

Desde o olhar puro lançado às coisas até esses estados, o espírito não fez mais que aumentar as suas funções, criando seres consoante os problemas que toda a sensação lhe propõe e que ele resolve com maior ou menor má-vontade, conforme lhe exigem uma maior ou menor produção de tais seres. Verificamos que tratamos agora da própria prática do pensamento. Pensar consiste, durante a maior parte do tempo que dedicamos ao pensamento, em vaguear por entre motivos em relação aos quais sabemos, antes de mais nada, que os conhecemos mais ou menos bem. (VALÈRY, 1979, p.31).

Valèry encontra em Da Vinci qualidades que por nós pode ser apropriada. Ele afirma que “um Leonadro da Vinci pode existir no nosso espírito” (p.35). De fato, para a nossa pesquisa, Da Vinci poderia ser considerado dotado de um Corpo Potencial. Assim, cabe imaginar e estudar esse espírito em seu jogo-inventivo-compositivo com o mundo. Tal como segue Valèry (1979, p.35):

Nesse espírito simbólico conserva-se a mais vasta coleção de formas, um tesouro sempre transparente das atitudes da natureza, um poder sempre iminente e crescente segundo a extensão do seu domínio. Um ror de seres, de lembranças possíveis, a força de reconhecer na extensão do mundo um número extraordinário de coisas distintas e de as organizar de milhentas maneiras, eis o que constitui esse poder. É o senhor das imagens, das anatomias, das máquinas. Sabe a composição de um sorriso; pode colocá-lo na fachada dum edifício, nos meandros dum jardim; desgrenha e arrepia os fios de água, as línguas de fogo. […] Como se as variações das coisas lhe parecessem demasiado lentas, na sua serenidade, adora as batalhas, as tempestades, o dilúvio.

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