SALA DE ESTUDOS

[85] 05/02/2018

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Notas que apontam para esta: [8]

 

Acontece que o pensamento existe em contato com as coisas do mundo e, ainda há que se considerar que o mundo também nos pensa [linkar fragmento a ser pensado com Baudrillard, talvez inserir Latour]. Não somos soberanos agindo sobre o meio, mas somos, ao contrário, afirmados e reafirmados pelo mundo que nos cerca: é possível pensar o que é possível num dado local e momento. Apesar deste nosso enunciado propor que o pensamento (ou o saber, diria Deleuze com Foucault – criar nota de rodapé com citação, talvez link para a nota anterior caso ela especifique este ponto) é circunscrito pelo ambiente que o cerca, é sempre possível alargar esse espaço no mundo conectado onde vivemos: a internet e o rápido acesso a textos, imagens e arquivos audiovisuais nos amplia o horizonte para muito além da vista.

Então temos/somos um mundo de corpos, onde nos destacamos por sermos um centro de perspectiva: nos inserimos em discursos, nos encontramos com corpos-coisas, nos relacionamentos com pessoas, histórias, transitamos por diversos territórios. E o que fizemos do nosso corpo nesses encontros (e a qual encontros nos propomos e como) é uma questão de educação, e é uma questão de pesquisa, e da nossa pesquisa. Essa questão então pensada, agora, sobre a perspectiva do método, qual seja: pensar (e inventar) modos de estar e de compor-se junto a estes outros. Repetimos enunciados próximos ao já dito em outros fragmentos: é questão de fazer de si boas composições [linkar] e criar narrativas ficcionais potencializadoras – é ser e fazer-se um Corpo Potencial.

O modo como nos inserimos, como deslizamos entre, diria Deleuze[link onde tem essa citação], como agimos e transgredimos as formas, e os modos. O modo como nos modulamos, como nos reescrevemos e, assim, nos descrevemos. O estilo com o qual nos apresentamos ao mundo é um estilo de se fazer ver, um performar a si, mas também um estilo de se escrever a si, ao escrever o mundo. Autoficção como performance [link].

Trata-se então desta relação com as coisas, de como por elas somos tocados (enquanto uma primeira intuição), e como sobre elas nos flexionamos, nos investimos num pensar sobre, que sempre é um pensar com. É um estar entre. É um tal reinventar o que está aí, redizer, reescrever, propor variações no texto do mundo.

Como estamos a pensar então: é como notamos o mundo e sobre/com ele anotamos, e ao anotar valoramos. Esse notar sendo como um perceber, que passa por uma primeira percepção intuitiva e que, sobre a condução de outras faculdades, anotamos como nossa apropriação do mundo (que difere da ideia de um conhecer [link para vontade de apropriação]). Isso tudo em jogo com o pensamento que se reapresenta na escrita[linkar fragmentos sobre escrita, lá por 40] que, por sua vez, retorna ao pensamento. E por isso também é importante uma escrita desequilibrada, que se proponha ao paradoxo, para que desvie também o pensamento e coloque-o à pensar(talvez uma nota do pensar no pensamento em Deleuze – tem uma em fragmento recente sobre dentro e fora, pressenta passo e futuro, no final de uma nota a citação).

Então, com Valery (1979, p.23),

A constatação [o notar, diríamos nós] é primeiramente suportada, quase sem pensamento, com o sentimento de se deixar preencher [a potência do que nos afeta], a par dum sentimento de lenta e como que feliz circulação: acontece uma pessoa interessar-se e dar às coisas que se encontravam fechadas e irredutíveis outros valores; uma pessoa confere-lhes um acréscimo, aprecia sobretudo alguns pontos particulares, exprime-os e dá-se então como que a restituição duma energia que os sentidos tivessem recebido.

Ao mergulhar no mundo e nele se embriagar, o ser, muitas vezes sem iniciativa direta, se percebe contemplando uma realidade que acaba de dar a ver e na qual se insere ao mesmo tempo como criador e como suporte – no pensamento e seu teatro que possibilita essa dramatização da realidade; e como criatura, pois também é efeito num real superficial e artificioso.

Valery, ademais, nos diz (1979, p.26) que “o observador não é, em primeiro lugar, senão a condição desse espaço infinito: a todo o momento ele é esse espaço infinito”. Talvez por isso ele afirme, num comentário na página 25 que “a educação profunda consiste na destruição da primeira educação”: a isso se deve o fato de que precisamos reaprender a ver. Antes mesmo de apreender o mundo, de possuir o que vê, ou seja, de inventar para si o mundo, é preciso reinventar o próprio modo como se vê, ou, pelo menos, colocar esta questão. Como vemos/lemos o mundo é condição primeira para o que dele fazemos, é o modo como criamos nossa realidade. Se somos esse espaço, ele também precisa ser pensado e inventado.

Num texto mais ou menos recente (criar nota sobre a notas apócrifas ao modo de uma introdução) trouxemos a ideia de um método possivelmente empregado nessa pesquisa: o da repetição esquecida. Também escrevemos acerca do Método Labiríntico (criar nota). Agora encontramos eco nesta citação:

Eis uma infinita complexidade; para nos orientarmos através da movimentação dos corpos, da circulação dos contornos, da barrafunda dos elos, das rotas, das quedas, dos turbilhões, do labirinto das velocidades, temos de recorrer ao nosso grande poder de esquecimento ordenado – e, sem destruirmos a noção adquirida, alcançamos uma concepção abstracta: a das ordens das grandezas. (VALERY, 1979, p.29).

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