SALA DE ESTUDOS

[92] 04/03/2018

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Lido[1].

Bem escrito e operando bem com os conceitos (tanto que teria que reler algumas vezes pra entender algumas partes que me passaram).

Me veio uma questão com relação ao desdobramento dos próximos ensaios – quanto a forma, que carrega consigo o conteúdo. É também, de alguma forma (novamente ela), uma questão de autoria: se tu fosse um filósofo na esteira pós-estruturalista provavelmente escreveria toda uma dissertação nessa linha (linha de pensamento, linha de escrita). Está bem. Mas você não é filósofo. Todavia, pode vir a ser um professor universitário a se propor (e propor aos estudantes) esse modo de pesquisar e escrever. Está muito bem.

Agora, quem escreve aqui é um artista que, ciente de seus anseios pessoais (e da possível inapropriedade deles), pergunta: vai (e como vai, se por um acaso for) por “em prática” as questões sobre as quais (e com as quais) fala? Seriam então experimentos mais para a literatura do que para a filosofia. Mas me pergunto se a psicologia, com todo o seu arcabouço fabulatório (inventei isso agora, me soou inteligente) não estaria em caminhos cruzados com ambas.

É provável que tu já estejas pensando nessas questões e nesses experimentos, ensaios, etc; o meu ponto está mais em relação à ordem dos fatores que, aqui, alteram o produto: minha leitura seria mais vivaz com esses experimentos atravessados no texto, fissurando-o. Em alguns momentos existe ali uma fagulha, não com força suficiente para queimar um pouco do texto filosófico. Gosto de ler Foucault e Deleuze, mas eles muitas vezes nos cansam; aí largamos e pegamos um Calvino, Borges, ou qualquer outro. Mas e no fim (que nunca termina) não são as mesmas questões?

Talvez em Nietzsche encontro um pouco mais de loucura, arte, zombaria até… Será que é porque ele havia se afastado da universidade)? Do tipo: estou vagando e a escrita me pertence, e eu a ela. Será que nós (estou nos incluindo no grupo com Deleuze e Foucault, mas não espalha) não carregamos a escrita com o peso da academia? E nem quero parecer romântico (embora seja com certa frequência). A questão me parece a de pôr-se em risco, jogando na escrita o jogo do qual se fala ao escrever; assim, jogando-se na escrita o jogo que joga-se ao escrever (e não seria escrever-se?).

 

É o tipo de papo que cai bem com uma cerveja. 🙂

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[1] E-mail enviado a Mauricio Esteves, irmão, mestrando no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Institucional da UFRGS, cuja dissertação versa sobre o tema da autoria.

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