Imagine esta nota fixada na entrada de um construção: você se encontra em frente a ela. Aproveite, antes de seguirmos, para circula-la e ter um primeiro reconhecimento de seus contornos, seus detalhes ou, se preferir, tomar distância para perspectivar sua estrutura. Outrossim, se estiver com pressa, leia sobre o seu funcionamento.
. E . não . deixe de reparar que . . . .. . . . .não é por não estarem visíveis. . . ……… . . . .. . . … . . . . . . . . . . .
. . . . .. . que não existam . .COISAS . . ………… ali
Pronto, supomos que tenha tomado seu tempo e imaginado a superfície desta composição e, com isso, esperamos que tenha se perguntado pelo seu interior — pois essa dúvida é importante para o que nele, e como ele, parece funcionar. Esse espaço, portanto, tem suas peculiaridades, como qualquer outro. Poderia resultar em certa estranheza se disséssemos que ele se chama site[1] e, que teria, como parece indicar em sua fachada, um proprietário: Diego Winck Esteves. Pois nada mais inapropriado para o que se propõe tal lugar — de todo modo, vamos supor que esses nomes indicam também dois espaços que, atravessados, se compõe neste prédio.
Vamos acordar, também, que ambos os espaços poderiam muito bem ser compreendidos como corpos. Vamos avançar um pouco mais, e aceitar que para os mesmos seria bem vinda a definição de coisas. Ainda, e indo um pouco além em nossa imaginação, que tais coisas, corpos, ou espaços são, de alguma forma, o que nesta nota não poderemos precisar, movimentos. Se, estamos de acordo, seguimos.
Assim, portanto, podemos creditar que os nomes registrados na superfície de entrada desta edificação indicam um dado momento de registro desses movimentos. Uma definição, portanto, prévia, que se fez necessária pelos processos produtivos sob a supervisão do Estado: a garantia de um nome, de uma origem, de um sentido, de um fim.
Eis, então, o motivo pelo o qual foi anexado esta nota: se esses nomes foram inscritos neste espaço e propõe a ele certos sentidos mais ou menos fixados – alheios a seus desejos, pois anteriores a eles -, tais referentes, que se apresentam sob as inscrições “Diego” e “site”, para todos os efeitos, a nós propõem, para que fique desde já registrado, que:
A – tudo o que está dito aqui pode ser lido como dito por um personagem que sabe que faz parte de uma estrutura e nela se insere sobre os seguintes preceitos:
A.1 – se esforça para se manter num certo esforço, ainda que se pretenda o menor esforço possível, para ser um outro, para ser um ele – para mover-se na estrutura e nisso movê-la também (ou para permitir-se ser movido);
A.1.2 – esse esforço está condicionado a um estar em jogo — para compor e se recompor com as forças que lhe afetam nestas dinâmicas espaço-temporais;
A.1.2.1 – essas ações as quais se propõe — na produção de composições inventivas —, estão estritamente condicionadas a um estado de improviso, compreendido como um estado de prontidão: uma certa atenção dispersa, de um não-Eu dotado de uma plasticidade flexível e resiliente, de uma força tomada de suas fragilidades ou, por outra perspectiva, do que (ainda) não é, de singularidades pré-individuais;
B – Jogo que comporta sempre outros jogos: da superfície onde nos encontramos, passa a nos ser indicado um jogo deste corpo incerto (ou corpos, ou coisas, ou espaços) conosco que chegamos a entrada deste prédio;
C – A terceira proposta, que finaliza essa nota, é, então, um convite ao jogo. Dentro do espaço acredita-se encontrar instruções, ou apontamentos, ou guias, ou mapas talvez;
C1 – Nos é proposto então a compreensão de que o espaço aqui exposto foi composto de múltiplos movimentos, e que estes são aqui inscritos sob uma composição que, nada mais é, do que a diminuição destas velocidades — no limite, anotada em palavras;
C2 – Cabe a nós então, ou melhor, a você, se assim quiser, tomar essa potência latente, partículas vibrando na matéria aparentemente imóvel, e possibilitar deslocamentos, quiçá multiplicá-las. Pois é evidente que você também é um corpo, uma coisa, um espaço: deste modo, ao entrar, se dispõe aos encontros e ao que eles, em sua incerta autonomia, podem produzir: você joga, e é jogado.
Nossa função, enquanto uma nota anexada, termina aqui: ao entrar você encontrará outros a te dizer (pois muitas coisas aqui falam, e de diversas formas), a te propor, a perguntar ou, a simplesmente estar – ou ainda, encontrará espaços vazios (e poderíamos antecipar uma pergunta: estariam realmente vazios?).
Ao encontrar uma porta, entre, este prédio, ao que nos parece, não possui dono, no momento então é seu, faça os caminhos que quiser — ou os quais forem possíveis fazer.
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[1] Este site teve início em 2013, mas foi composto a partir de um blog criado em 2009. Em 2017 ele passa a se articular com a pesquisa de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na linha de pesquisa Filosofias da Diferença e Educação, vinculado a pesquisa “Tradução Criadora na Formação de Professores”, sob orientação de Máximo Daniel Lamela Adó, com bolsa de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. “Pesquisa-improvisação: educação em jogo” é o título da Dissertação resultante desta pesquisa, e que é articulada, portanto, com este espaço.