SALA DE ESTUDOS

[64] 07/12/2017

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Duas horas após iniciar o fragmento anterior (agora são 12:16) levantei-me, fui até a cozinha para me hidratar e caminhei até o quarto de onde, através da janela, posso receber um pouco mais de luz, apesar da imagem não muito agradável do shopping que me avizinha. Antes mesmo de chegar na janela, notei o livro As Três Ecologias, de Felix Guattari, sobre a mesa que possuo em meu quarto (habitualmente ela está suportando livros, tal como a mesa que fica na sala, onde escrevo. Assim, os livros que estão nesse aposento de escrita são os que fazem parte dos meus movimentos atuais de pesquisa e, eventualmente, voltaram para a mesa do quarto ou para as prateleiras – aonde ficam esquecidos, até futuras lembranças).

Repito movimentos de outrora: se notei esse livro, que por algum motivo se diferenciou dos outros tantos que com ele formavam meia dúzia de pilhas (pois tive que retirar da parede uma de minhas estantes que ficam suspensas, pois a parede está por ser pintada) creio ser justo que dele surjam outras notações, anotações. Em verdade, essa ideia de notar e anotar se presentificou em meus pensamentos num dia qualquer, enquanto caminhava em direção a uma reunião sobre um projeto artístico. Desta ideia falarei um pouco mais a frente [link], pois, diferente dos procedimentos que vinha adotando com mais frequência nos escritos anteriores, estes que se iniciaram hoje resultaram de uma série de leituras mais ou  menos ordenadas e encadeadas para uma escrita que parte da retomado do Corpo Potencial como um corpo que se autoexperimenta para produzir um CsO, adentra na ideia da autoexperimentação em Nietzsche (o próximo passo-fragmento-nota), segue com a ideia do jogo e composição entre as forças apolínicas e dionisíacas para voltar a questão do texto, passando pela ideia de notar e anotar, e afirmando esses feitos com as ficções de uma vida, autoficções, em performatividades escritas e ativadas nas ações cotidianas; pensando o mundo como aparência – e com ele uma poética da existência.

Todavia, apesar do roteiro pré-estabelecido, e das variações inerentes e esperadas, são benvindos os desvios nesses encontros que acontecem ao acaso (ao acaso?). Assim, ao “folhear Guattari” e parar na primeira citação marcada, ou seja, (a)notada na leitura passada, noto que ela se compõe com o que venho escrevendo (se compõe ou eu percebo que compõe pois aí nesses espaços da vida vou escrevendo minha narrativa ficcional, onde me serve o que encontro e nisso leio o que escrevo? É quase obvio que essa pergunta esta mais para uma afirmação).

Fazer emergir outros mundos diferentes daquele da pura informação abstrata; engendrar Universos de referência e Territórios existenciais, onde a singularidade e a finitude sejam levadas em conta pela lógica multivalente das ecologias mentais e pelo princípio de Eros de grupo da ecologia social e afrontar o face a face vertiginoso com o Cosmos para submetê-lo a uma vida possível – tais são as vias embaralhadas da tripla visão ecológica. Uma ecosofia de um tipo novo, ao mesmo tempo prática e especulativa, ético-política e estética, deve a meu ver substituir as antigas formas de engajamento religioso, político, associativo… Ela não será nem uma disciplina de recolhimento na interioridade, nem uma simples renovação das antigas formas de “militantismo”. Trata-se antes de movimento de múltiplas faces dando lugar a instâncias e dispositivos ao mesmo tempo analíticos e produtores de subjetividade. […] Seus registros são da alçada do que chamei de heterogênese, isto é, processo contínuo de ressingularização. Os indivíduos devem se tornar ao mesmo tempo solidários e cada vez mais diferentes. (GUATTARI, 2012, p.53-55).

(12:47)

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