SALA DE ESTUDOS

[72] 24/12/2017

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COMO EXPLICO MINHA PESQUISA POR WHATSAPP

Porto Alegre, 21 de dezembro, 11 horas e 30 minutos. Chego à cafeteria e tento sem sucesso abrir a porta. Depois de duas tentativas falhas, paro para ler o aviso que diz “empurre” na porta destravada ao lado da porta trancada a qual eu puxava. Durante a cena das palavras em jogo no meu pensamento em busca de um próximo ato que pudesse ir enfim ao encontro do café, e antes do tempo que precisava para empurrar a porta correta, outro cliente a abre para mim. E se essa introdução não reflete o título nem o que vou escrever a partir daqui, é mais por intentar encenar uma escrita que pensa encontrar nesses detalhes um significante dos movimentos da vida, ou seja, das idas e pausas (e vindas) em desvios mais ou menos angulosos. Não me parece justo o texto, alheio à vitalidade errante do cotidiano, querer ser escrito em linhas retas. Pois nem Deus assim o fez.

Entre um gole de café e mordidas num sanduíche respondo mensagens no whatsapp. Numa dessas (agora não importa o motivo, já que não quero me exceder nesse fragmento, e tampouco é necessário se saber o motivo de todas as coisas) minha interlocutora faz a infame pergunta: o que é tua pesquisa afinal?

Assim, passo a me citar abaixo, num ato que representou uma tentativa de dizer (e escrever) do que se trata essa pesquisa para uma pessoa que não estuda o que aqui se estuda, e tampouco é do mesmo campo de conhecimento. Isso pensando, numa autocrítica, que a pesquisa não pode se fechar em si, ou no entorno dos pares “letrados” em Nietzsche, Deleuze, etc. Tampouco queremos defender uma pesquisa que seja entendida por todos, pois, se não é de se entender que se trata, nos parece potente produzir efeitos nesse jogo escrita-leitura. Se trata, talvez, da nossa capacidade, também errante, de variar nosso estilo para produzir diferentes efeitos. É sempre uma tentativa. Um modo de tentar, sempre ativo: talvez nisso entendemos o que aqui estamos chamando de estilo.

Na pesquisa, penso com o jogo, tendo nesse um modo de provocar desvios, para colocar o corpo em estado de improviso, ou para treinar esse estado; Se utiliza (a pesquisa) de conceitos filosóficos, sobretudo, e opera sobre a escritura, tendo esta também como um espaço de jogo e de improvisação. Faz da pesquisa um exercício de autoexperimentação, cria labirintos, promove (e aceita) encontros, se move e retorna para os mesmos pontos, repete e produz diferença na repetição. Pesquisa que inventa os seus modos, em variação, experimento e ficção real.

Pensando esses movimentos como um modo de criar para si um Corpo Potencial.

Que não é o potente como se prolifera no capitalismo, no esporte, na moda, etc… É a potência da variação, a potência também do não, da vida e da morte, do desfazer-se para fazer-se outro, do mover para ver, viver, e compor, o mundo e a si.

Finda a tentativa de síntese.

Talvez, inclusive, eu insira essa tentativa na dissertação.

P.s.: esse Corpo Potencial, que estou pensando como uma fantasia de escritura(Barthes), não centraliza no corpo humano. Toma, aqui com ênfase, o corpo do texto. Mas tem importância o pensamento sobre/com os demais corpos. De pensar que o mundo nos pensa, os objetos nos pensam. Todo corpo possui energia, todo corpo é potencial. Somos afetados por todos estes. É preciso romper com a hegemonia do sujeito sobre o objeto. Somo todos corpos nesse jogo complexo da existência. Energias em movimento.

Shiva dançando.

Que te parece?

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