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[73] 26/12/2017

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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DO MÉTODO “ADOTADO”

Neste momento parece importante fazer algumas considerações sobre a pesquisa. Sobre o tema da pesquisa, sobre o que se pesquisa, mas, sobretudo, sobre como se pesquisa. Sem embargo, de alguma maneira, esse “como” é a própria pesquisa. Esse “como” não pressupõe um “como chegar ao lugar”; esse como é um modo, um fazer-se, uma experimentação. Assim, o ato de pesquisar se confunde com o ato de educar, com uma autoeducação. Assim também, a educação é entendida como um pesquisar a si, um pesquisar a si que se pesquisa com o mundo, pois não se divide eu e mundo, corpo e mente, sujeito e objetos (ainda que se entenda a especificidades destes corpos, e que se busque compreender o modo como cada um é composto e se compõe nesse jogo da existência). Então, se neste momento da pesquisa pareceu importante algumas definições, é porque de algum modo essas “definições” chegam até nós. Ainda que se de alguma forma são buscadas, não as são num sentido de pega-esconde, de quem supõe uma verdade e objetiva encontra-la por detrás da realidade (e dos textos), mas de uma brincadeira ao modo de uma exploração, uma jornada, um viajante em seu jardim de infância – e a infância como esse estado de inocência, de jogo com o acaso [link para Nietzsche e Heráclito]. O que importa, então, é o que é importado, o que vem “ao dentro”: é como uma intuição que se desdobra em conhecimento, ou seja, o que percebo e invento como um conhecido (ou o que noto e anoto, conforme venho pensando como uma poética notacional, mas isso ainda é uma fantasia meio disforme – a qual cito desta forma, como poética notacional, talvez pela primeira vez).

Algumas definições então: não há uma verdade para encontrar, as verdades são invenções; não se pesquisa como um sujeito pesquisador, mas intenta-se se dispor nesse jogo de forças, como quem brinca, como quem dança; não se parte de um sentido e método pré-existente, mas se exercita na afinação da sensação, da intuição e definição de sentidos; não se escreve sobre o que pesquisou, mas se escreve como uma pesquisa que encontra ao escrever, que improvisa com os encontros e que cria esses encontros aos escrevê-los (que transcreve algo inexpressável enquanto identificação); não busca caminhos retos, evita que o corpo busque caminhos conhecidos e equilibrados, produz desvios, incomoda a si; não há uma chegada, pois não estamos a buscar caminhos e uma meta, nosso método é a invenção dos caminhos e esses caminhos são errantes, desviantes: são caminhos que vão ganhando terreno em movimentos circulares, que eventualmente retornam para o ponto de partida, e em novas espirais ganham mais espaço dentro do espaço já percorrido (e encontram, e inventam, mais coisas junto ao já conhecido, já inventado); trata-se de um método que se faz ao fazer-se pesquisa; trata de uma pesquisa que se educa ao pesquisar a educação.

O que, também, nos leva a escrever essas considerações, é o encontro com uma citação de Nietzsche (com o qual temos nos encontrado nessa leitura escrita dançante). Digo também, pois, são diversos encontros que ganham força ao se repetirem – uns visíveis, outros, talvez, somente “sentíveis”. Esses encontros ganham força na sua apresentação enquanto palavras. Dessas que se repetem ganha força a ideia da viagem, uma viagem sem caminhos definidos (ainda que eventualmente se caminhe nos caminhos de outros que nos afetam, e que se caminhe junto). E essa viagem é desviante, como teimo em repetir-me. Essa viagem é uma repetição, que teima em desviar-me. Ao retornar por outro caminho se vê o “já visto” por outra perspectiva. É uma viagem que constrói seus caminhos, ora com caminhos de outros, ora ao acaso (e com a intuição), ora sem saber se inventou um caminhou ou encontrou um caminho já existente (pois também somos tomados pela força da história, de, talvez, um inconsciente coletivo, ou a força que ganha a repetição desses caminhos feitos e refeitos outrora – por outros e por nós mesmos[link para fragmento poético que fala sobre o repetir-se e dos caminhos]). Esse caminho inventado é um labirinto: caminhos em superfície, caminhos subterrâneos, arenosos, mergulhos em águas rasas (e profundas), planícies e também pontes elevadas, de onde, por alguns instantes, podemos vislumbrar o labirinto enquanto uma paisagem, até onde nossos olhos (ou nossa invenção criativa) podem ver. Então, “com” os caminhos de Zaratustra, com Nietzsche:

Por muitos caminhos diferentes e de múltiplos modos cheguei eu à minha verdade; não por uma única escada subi até a altura onde meus olhos percorrem o mundo. E nunca gostei de perguntar por caminhos, – isso, ao meu ver, sempre repugna! Preferia perguntar e submeter à prova os próprios caminhos. Um ensaiar e perguntar foi todo o meu caminhar – e, na verdade, também tem-se de aprender a responder a tal pergunta! Este é o meu gosto, do qual já não me vergonho nem o escondo. “Este é o meu caminho, onde está o vosso?”, assim respondia eu aos que perguntavam “pelo caminho”. O caminho, na verdade, não existe! (NIEZSCHE apud LARROSA, 2009, p.40).

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