SALA DE ESTUDOS

[74] 26/12/2017

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As escolhas feitas (ou que se fazem à nós) tem como um contraponto um certo modo de apreender, ou um certo modo de pesquisar. Não gostaríamos de tomar muito tempo nesta feita, pois não se trata de opor um modo de fazer pesquisa (e de fazer educação) a outro. Contudo, nos parece importante e necessário um certo destaque quanto ao que Nietzsche chamou de leitor moderno (ou que Larrosa disse que Nietzsche chamou). Assim, dos modos possíveis de pesquisar (entre eles, e com destaque aqui, das invenções de modos como um possível) ganham destaque os métodos referendados, testados, “garantidos”: métodos científicos parecem ter mais força de comprovação do que métodos “não científicos”, ou ficcionais (ainda que, em última instância, a ciência não seja mais do que uma grande ficção, ou uma rede complexa de ficções que se afirmam e se negam, mas se reafirmam nesta megalomaníaca ficção científica que se autoproclama a descobridora do real). Assim, afirmamos o nosso caminho como um caminho dentre outros, com nossa predileção pela invenção desviada.

O leitor moderno, parece dizer Nietzsche, é um homem de rebanho: suas buscas carecem de audácia visto que só se propõe objetivos pequenos, limitados e conhecidos de antemão; seus métodos são caminhos seguros e bem delimitados, e não conhece o infinito do mar onde nenhum caminho está traçado; em lugar da astúcia, suas qualidades são a constância e a boa vontade; não conhece a embriaguez e se conforma com o trabalho forçado e com os prazeres sensatos; ignora os enigmas porque só sabe fazer a si perguntas às quais possa antecipar a resposta; não se deixa seduzir nem se desviar do seu caminho; foge dos labirintos porque lhe agradam os itinerários retos e, em todo o caso, se alguma vez cai em um labirinto, não o explora, mas busca uma saída. (LARROSA, 2009, p.38).

Se é uma pesquisa sobre a educação, também é uma autoeducação em pesquisa. Pesquisador e pesquisa aqui não se separam. Não há, tampouco, a ilusão de uma quarta parede que separe pesquisador e leitor. Estamos todos em cena. Todavia, não é possível um encontro verdadeiro, a não ser que entendamos a verdade enquanto uma ficção [link para fragmento com Flusser]. É preciso ler então, todos os textos (e ler o mundo[link para fragmento anterior]) como quem dança improvisando, com certa leveza, e com atenção e precisão. É preciso escrever também, com certa dose de imprecisão. É preciso se mover entre e com as palavras, com o pensamento. É preciso aceitar que navegar não é preciso – viajar sem GPS, e pouco peso.

Não há formula capaz de determinar a quantidade de alimentos de que necessita uma inteligência; se por suas aficções inclina-se para uma independência, para uma chegada repentina, para uma partida rápida, para as viagens, talvez para as aventuras, para as quais só tem aptidão os mais velozes, preferira sustentar-se com frugal alimento ao invés de viver farta e assujeitada. O que o bom bailarino pede como sua alimentação não é gordura, mas uma grande agilidade e um grande vigor, e nada pode apatecer melhor o gênio de um filósofo que ser um bom bailarino. A dança é seu ideal, sua arte particular e, por último, sua única piedade, seu “culto”. (NIEZSCHE apud LAROSSA, 2009, p.36).

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