SALA DE ESTUDOS

[75] 10/01/2018

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Notas que apontam para esta: [19] 

Hoje [por acaso] encontrei Bataille. Intuía que precisava lê-lo (primeiro pela temática do erótico, depois pelo próprio Nietzsche). Hoje, enquanto chegava ao Centro de Yoga e Meditação (e destaco com curiosidade as menções que encontrei em Bataille, no livro ao qual acabo de travar os primeiros contatos, sobre suas práticas de yoga, bem como o título de um dos textos que se encontra em outro livro: Método de Meditação) fui convidado por uma colega para ir até uma livraria e lá, logo ao entrar, me chamou a atenção uma pilha de livros que iniciava com Walter Benjamin, passava por Giorgio Agamben e (enquanto eu pensava que poderia comprar todos eles) no fim da pilha estava Sobre Nietzsche: vontade de chance (e não tive dúvidas de que precisava levá-lo).

Antes disso, passei os últimos dias lendo e fazendo notas das notas que precisava escrever. Considerei listar os textos que iniciei como dobra desses blocos de notas (que começou com O Método Labiríntico, no dia 29/12/2017) e datar também dois textos que ainda não passaram para a pasta “Dissertação” do computador, e se encontram portanto no aplicativo de notas chamado Evernote (acerca desses procedimentos devo tratar num próximo “texto-dobra” que intenta chamar-se Poética notacional: inventário de encontros). Sobre esses textos e suas datas não tenho dúvidas já que de memória lembro tratar-se das madrugadas do dia 29 para 30/12/2017 (o texto Notas apócrifas ao modo de uma apresentação) e o segundo na madrugada do dia 30 para o dia 31/12/2017 (Porta de entrada) – este enquanto acompanhava minha mãe no hospital, no dia do seu aniversário, o outro na escuridão da sala da casa dos meus pais, enquanto fui convocado a anotar uma frase, que sem muita (ou nenhuma) cerimônia jorrou num texto que pouco identifico como meu – o que parece-me um bom augúrio (no sentido de encontrar portas para o fora que, por sinal, talvez venha a ser o título do último texto da dissertação, numa nota que fiz também neste período, provavelmente na mesma madrugada entre os dias 29 e 30).

Tenho aqui por anotar, portanto, pensares com a escrita, sobre a escrita; e esta como uma vontade de apropriação, de conquista; e esta, por sua vez, como invenção (o que já foi esboçado no referido Método Labiríntico e que, talvez por isso, não venha a se compor nesse bloco – a não ser que assim se solicite…). Além disso, outras notas do Nietzsche de Garnier. Possivelmente uma nota sobre uma conversa de whatsapp – numa possível série, já iniciada [link], “Temas dissertativos em diálogos cotidianos”.

Ao acaso então, se atravessa aqui, Bataille. Produz um desvio, tão bem-vindo para o que nos propomos. Ao comprar o livro pensei que este me serviria para movimentos futuros (que ao que tenho esboçado seguiria ainda com a leitura de uma Tese sobre autoficção e etnografia[nota de rodapé], uma parte dela, A Escrita de si de Foucault, e talvez alguns artigos e textos sobre Bakhnin e Kristeva, até retornar ao tema do corpo, e o Corpo Potencial – e aqui entraria Georges Bataille).

De todo modo, esse desvio pontua esse primeiro encontro, que demarco nessa citação – e nessa pesquisa como uma exploração na qual me exer/cito (e aqui cabe uma menção ao pequeno desvio que essa palavra pode produzir no que tange seu significado em exército que, por sua vez, nos insere, de um jeito torto e saltado, nas questões que Bataille nos introduz no texto Zaratustra e o encantamento do jogo – e que penso nos servirá para pensar a ideia de combate):

[…] A guerra moderna, pelo contrário, pôs o acento na meta, no resultado das operações, subordinando tudo a cálculos razoáveis. É verdade: Zaratustra não faz a crítica a Guerra total. O livro sequer formula, ao menos de maneira explícita, a rejeição da ideia de meta. Mas viramos as costas ao que ele é profundamente enquanto não o ligamos à louca exaltação do acaso e do jogo, ou seja, ao desprezo pelo mundo tal como o cálculo o concebeu e ordenou. […] Há nesse livro o mesmo desfalecimento que observamos na dança, se buscamos no movimento que a anima um equivalente da marcha, determinada pela meta a que responde. (BATAILLE, 2009, p.362).

E, na sequência, o que merece nosso destaque dado o interesse que nos aflige (e nos anima), da relação entre dança, jogo e riso (sobre os quais já escrevemos em outros momentos[links] e aqui encontramos eco): “Zaratustra só pode ser entendido no encantamento do riso, que, por não vivermos no riso e sim ordenando em nós a explicação das coisas, está fechado para nós: no encantamento do salto, que é o riso da dança” (BATAILLE, 2017, p.362).

E, ao finalizar esse curto texto de duas páginas e meia, Bataille pontua duas frases que abrem espaço para uma escrita sem fim (e nessa esteira, desviada, tentamos nos inserir): “Em verdade, Zaratustra põe em causa tudo o que funda a ordem humana e o sistema de nossos pensamentos. Zaratustra nos abre um mundo onde só o jogo é soberano, onde a servidão do trabalho é denunciada: é o mundo da tragédia.” (BATAILLE, 2017, p.363).

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