SALA DE ESTUDOS

[79] 22/01/2018

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De alguma forma acabamos por chegar num escrito que pretendíamos escrever. Trata-se de um diálogo pelo whatsaap, o segundo [link para o primeiro]. Diálogo esse ocorrido no dia 29 de dezembro e que no chega a partir do que escrevemos anteriormente. E o “o que” escrevemos segue a lógica do “sobre” o que escrevemos, ou seja: se estamos falando que não há uma verdade que não seja uma invenção e tampouco há uma pesquisa que não se coadune com os pensamentos do pesquisador (e neles suas memórias, intuição, razão, interesses e esquecimentos), é por crer que estamos fazendo o mesmo na pesquisa (ao menos é o que intentamos). E este fazer “na” pesquisa faz dela uma performance que não busca interpretar a realidade, mas reapresenta-la sobre a forma de um escrita, talvez de uma ficção científica. Estamos a contar um conto, um conto científico, que relata os fatos como ocorridos num palco, onde não se veste máscaras, mas se é as próprias máscaras.

O conceito de performance deixaria ver o caráter teatralizado da construção da imagem do autor. Desta perspectiva, não haveria um sujeito pleno, originário, que o texto reflete ou mascara. Pelo contrário, tanto os textos ficcionais quanto a atuação (a vida pública) do autor são faces complementares da mesma produção de uma subjetividade, instâncias de atuação do eu que se tencionam ou se reforçam, mas que, em todo o caso, já não podem ser pensadas isoladamente. O autor é considerado enquanto sujeito de uma performance, de uma atuação, que “representa um papel” na própria “vida real”, na sua exposição pública, em suas múltiplas falas de si, nas entrevistas, nas crônicas e auto-retratos, nas palestras. Portanto, o que interessa do autobiográfico no texto de auto-ficção não é uma certa adequação à verdade dos fatos, mas sim “a ilusão da presença, do acesso ao lugar de emanação da voz. (KLINGER, 2006, p.59).

Por essa via nos interessa os feitos cotidianos. Eles são projeções do pensamento e o que dão a ver ao pensamento. Assim a pesquisa não aparta teoria e prática, mundo acadêmico e mundo mundano, pensamento filosófico e pensamento cotidiano. Assim como não separamos pesquisador do sujeito diário, escrita conceitual de fala ordinária: tudo são desdobramentos de um pensar sobre, de um pensar com.

Chegamos então ao whatsapp.

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