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[78] 22/01/2018

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Nota que aponta para esta: [10] 

 

Ao escrever o fragmento anterior fui remetido a memória de uma citação de Deleuze acerca de Foucault. Ao procura-la encontro primeiro outra, anteriormente demarcada como “DSTÇ”, ou seja, citação que possa servir à DiSserTaÇão (como parece óbvio, mesmo assim quis reiterar). E assim então nos serve, nesse complexo movimento do pensamento, das paixões e afetos.

O que O Nascimento da Clínica já desvendava era uma “olhar absoluto”, uma “visibilidade virtual”, uma “visibilidade fora do olhar”, que denominava todas as experiências perceptivas e não convidava à visão sem convidar também os outros campos sensoriais, a audição e o tato. As visibilidades não se definem pela visão, mas são complexos de ações e de paixões, de ações e de reações, de complexos multissensoriais que vem à luz. Como diz Magritte numa carta a Foucault, o que vê, e pode ser descrito visivelmente, é o pensamento (DELEUZE, 2006, p.68).

Assim, se antes falávamos da pesquisa como autobiografia, essa se dá como uma autobiografia do pensamento: não como sinônimo de racionalidade, mas como um complexo jogo entre as faculdades. Sendo que, se o que se vê e se descreve é o pensamento, é preciso considerar acerca desse quem descreve que “a condição à qual a visibilidade se refere não é, entretanto, a maneira de ver de um sujeito: o próprio sujeito que vê é um lugar na visibilidade, uma função derivada da visibilidade” (DELEUZE, 2006, p.66).

Ademais, o que se vê não é um real a ser desvelado pela visão investigadora e constituição de um saber (e aí chegamos à citação que buscávamos):

O que é estratificado não é objeto indireto de um saber que surgiria depois, mas constitui diretamente um saber: a lição das coisas e a lição da gramática. […] Na verdade, não há nada antes do saber, porque o saber, na nova conceituação de Foucault, define-se por suas combinações do visível e do enunciável próprias para cada estrato, para cada formação histórica. O saber é um agenciamento prático, um “dispositivo” de enunciados e de visibilidades. Não há então nada sob o saber (embora haja, como veremos, coisas fora do saber). (DELEUZE, 2006, p.60).

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