SALA DE ESTUDOS

[82] 30/01/2018

Voltar para nota anterior

 

É o espaço, o espaço do fora. É o caos. Mas este espaço nos convoca, nos puxa, tal qual a força de um buraco negro: somos conduzidos pelo nosso não-saber e por nossa necessidade de explorar; mais do que isso, antes mesmo de um ato consciente: é o espaço que nos convoca, que nos solicita, ele possui mais força de atração do que julgamos ter nosso desejo de conhecer. De toda forma, a estranheza desse desconhecido tem um ar de intimidade – talvez porque este fora nos habite, porque em nós há muito de desconhecido, em cada recanto íntimos do nosso ser que, sem embargo, não é nosso, sem deixar de ser.

Todo o espaço do lado de dentro está topologicamente em contato com o lado de fora, independentemente das distâncias e sobre os limites de um “vivente”; e esta topologia carnal ou vital, longe de ser explicado pelo espaço, libera um tempo que condensa o passado do lado de dentro, faz acontecer o futuro do lado de fora, e os confronta do limite do presente. […] Pensar é se alojar no estrato no presente que serve de limite: o que é que posso ver e o que posso dizer hoje? Mas isso é pensar o passado tal como se condensa no dentro, na relação consigo (há um grego em mim, ou um cristão…). Pensar o passado contra o presente, resistir ao presente, não para um retorno, mas “em favor, espero, de um tempo que virá” (Nietzsche), isto é, tornando o passado ativo e presente fora, para que surja enfim algo novo, para que pensar, sempre, suceda ao pensamento. O pensamento pensa sua própria história (passado), mas para se libertar do que ele pensa (presente) e poder, enfim, “pensar de outra forma” (futuro). É o que Blanchot chamava “a paixão do lado de fora”, uma força que só tende em direção ao fora porque o próprio fora tornou-se a “intimidade”, a “intrusão”. (DELEUZE, 2006a, p.265).

Seguir para a próxima nota

© 2024 SALA DE ESTUDOS

Theme by Anders Norén