SALA DE ESTUDOS

[25] 08/09/2017

Voltar para nota anterior

Notas que apontam para esta: [2]

Devemos, assim, romper com o um longo hábito de pensamento que nos faz considerar o problemático como uma categoria subjetiva de nosso conhecimento, um momento empírico que marcaria somente a imperfeição de nossa conduta, a triste necessidade em que nos encontramos de não saber de antemão e que desapareceria com o saber adquirido. O problemático pode muito bem ser recoberto pelas soluções, nem por isso ele deixa de subsistir na Ideia que o refere às suas condições e organiza a gênese das próprias soluções. Sem essa ideia as soluções não teriam sentido. O problemático é ao mesmo tempo uma categoria objetiva do conhecimento e um gênero de ser perfeitamente objetivo (DELEUZE, 2007, p.57).

Problema não como falta: como condição da existência; ser afetado por problemas que lhe colocam a pensar; de criar soluções e de criar seus próprios problemas. “Aquele que distingue criação de criatividade; considerando a criatividade (isto é, a criação de soluções originais para problemas já dados), apenas como uma parte do processo de criação; o qual é mais amplo e envolve a criação dos próprios problemas” (CORAZZA, 2013, p. 98).

É, pois, afirmar o acaso criando seus próprios jogos e suas regras. É perturbar a realidade, o mundo, seu próprio mundo[ ]. É, em certa medida, perturbar-se a si. É criar desvios no pensamento[ ]. É colocar o pensamento a pensar, colocar o corpo a mover. Mover corpos no corpo. Onde não há vitória, onde não se busca domínio, mas um estar de acordo com o jogo, jogando e sendo jogado num equilíbrio instável[ ]: gênese da vida, singularidades como fragmentos do/no Acontecimento[23]. Onde vida e arte inscrevem-se como jogos de letras com significado análogo.

Pois só o pensamento pode afirmar todo o acaso, fazer do acaso um objeto de afirmação. E, se tentamos jogar esse jogo fora do pensamento, nada acontece e, se tentamos produzir um resultado diferente da obra de arte, nada se produz. É pois o jogo reservado ao pensamento e à arte, lá onde não há mais vitórias para aqueles que souberem jogar, isto é, afirmar  e ramificar o acaso, ao invés de dividí-lo para dominá-lo, para apostar, para ganhar. Este jogo não existe a não ser no pensamento, e que não tem outro resultado além da obra de arte, é também aquilo pelo que o pensamento e a arte são reais e perturbam a realidade, a moralidade e a economia do mundo. (DELEUZE, 2007. p.63).

Seguir para a próxima nota

© 2024 SALA DE ESTUDOS

Theme by Anders Norén