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[2] 27/07/2017 – 23/08/2017 [data em que o texto foi iniciado e a posterior inserção das citações e ajustes]

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Notas que apontam para esta:

 

COMO CRIAR PARA SI UM CORPO POTENCIAL?

O importante é conceber a vida, cada individualidade de vida, não como uma forma, ou um desenvolvimento de forma, mas como uma relação complexa entre velocidades diferenciais, entre abrandamento e aceleração de partículas. Uma composição de velocidades e de lentidões num plano de imanência. Acontece também que uma forma musical dependa de uma relação complexa entre velocidades e lentidões de partículas sonoras. Não é apenas uma questão de música, mas de maneira de viver: é pela velocidade e lentidão que a gente desliza entre as coisas, que a gente conjuga com outra coisa: a gente nunca começa, nunca se recomeça tudo novamente, a gente desliza por entre, se introduz no meio, abraça-se ou se impõe ritmos. (DELEUZE, 2002, p.128).

O Corpo Potencial é variação. A ele nunca se chega, assim como ao Corpo sem Órgãos. Mesmo assim, já se está sobre ele[1]. Se a ele não se chega, enquanto um lugar fixado, em vida, a ele também não pode se chegar, numa definição, em texto. Ainda assim, sobre ele se pensa, com ele se escreve, a espreita dele se vive. Paradoxalmente nele já se está: todo corpo possui um potencial. Contudo, não há um ponto de chegada, pois tanto não se sabe quanto pode um corpo[2], quanto não podemos definir esse ponto em presença: se dissemos de um estado é isto!, enquanto se fala, o corpo já mudou. Sobre esse dinamismo nos dispomos numa abordagem experimental[3] como modo de se aproximar ao Corpo Potencial: um corpo que é multiplicidade, está sempre em variação e sobre o qual o texto não pode ficar alheio; nos cabe então ensaiar como um tatear, num jogar com conceitos e imagens, e inferir o que pode ser, ou não ser, esse corpo.           

 Seguir para a próxima nota.

[1] “Diz-se: que é isto – o CsO – mas já se está sobre ele – arrastando-se como um verme, tateando como um cego ou correndo como um louco, viajante do deserto e nômade da estepe. É sobre ele que dormimos, velamos, que lutamos, lutamos e somos vencidos, que procuramos nosso lugar, que descobrimos nossas felicidades inauditas e nossas quedas fabulosas, que penetramos e somos penetrados, que amamos” (DELEUZE; GUATTARI, 1996, p.8).

[2] “Espinosa propõe aos filósofos um novo modelo: o corpo. Propõe-lhe instituir o corpo. ‘Não sabemos o que pode o corpo…’. Esta declaração de ignorância é uma provocação: falamos da consciência e de seus decretos, da vontade e de seis efeitos, dos mil meios de mover o corpo, de dominar o corpo e as paixões – mas nós nem sequer sabemos de que é capaz um corpo. Porque não sabemos, tagarelamos. Como dirá Nietzsche, espantamo-nos diante da consciência, mas ‘o que surpreende é, acima de tudo, o corpo…’” (DELEUZE, 2002, p.133).

[3] Então a consciência do ser espiritual é acrescida da consciência de um devir espiritual. O espírito se revela como um ser a instruir, ou seja, como um ser a criar. […] De fato, a consciência clara do ser está sempre associada a uma consciência de seu aniquilamento. Se sinto o ser em mim, numa experiência inefável, é porque o sinto renascer; eu o conheço porque o reconheço; eu o compreendo na oscilação do ser e do não-ser, eu o vejo contra um fundo de vazio (BACHELARD, 2004, p.80-85).

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