SALA DE ESTUDOS

[27] 29/09/2017

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Já fazem alguns dias que me outorguei uma tarefa árdua e ao mesmo tempo prazerosa. Tarefa que demanda atenção cotidiana, criatividade desapegada, e abertura aos resultados improváveis. Para outros, pode parecer uma ocupação inapropriada do tempo, tanto quanto dessas linhas, mas para mim, é um assunto de suma importância. Desta feita, não me usurpo o direito de atentar para pequenos detalhes do cotidiano, pois são esses detalhes que diferem a vida da morte, e da morte na qual morremos a cada dia, por a eles não honrar a devida importância.

Hoje, e desde alguns dias, sempre que me perguntam “como estás?” me ponho a improvisar, o mais instantaneamente possível, assim que possa parecer uma fala naturalmente transposta de minha interioridade clara e apaziguada, uma resposta: “verdejante”, “intolerável”, “aguanífico”, “como se tivesse ido e não voltado”, “assim como me vê, mas potencialmente diferente”.

Um exercício. Alguns nisso podem ver um jogo não só desnecessário, mas, sobretudo, arrogante: o de expor o interlocutor a um desconforto. A esses que assim podem pensar, caso pensem, não me oponho. Não vejo no desconforto grandes problemas. E ainda, que se encontrar por aí grandes problemas, melhor, mas já me satisfaço com os pequenos. Fico criando meus próprios problemas, e generosamente espero poder compartilha-los. “Tudo bem” não é uma resposta sincera, tampouco real. Primeiro, não tenho a mínima noção do que pode ser esse tudo, assim que o que conheço não é mais do que uma pequena ínfima parte. Segundo, “bem” é uma palavra cretina que me pinta em contornos coloridos, mas não em demasia, e bem ajustado ao que espera minha mãe, a igreja e o plano de saúde. Prefiro assim improvisar uma resposta e com ela pensar em como estou.

Pensar em como estou, ou olhar para fora de mim, para esse tudo, que não está bem, mas também está, e “verdejante”, e “aquanífico”, e “intolerável”, e “como se tivesse ido e não voltado”, e “assim como me vê, mas potencialmente diferente”.

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