SALA DE ESTUDOS

[19] 29/08/2017 – 08/09/2017

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A afirmação do jogo, a afirmação da inocência, afirmação do acaso, afirmação da vontade e da diferença:

Nietzsche substitui o elemento especulativo da negação, da oposição ou da contradição, pelo elemento prático da diferença: objeto da afirmação e do gozo. É nesse sentido que existe um empirismo nietzschiano. A pergunta tão frequente de Nietzsche: o que uma vontade quer? o que quer este? aquele? não deve ser compreendida como uma procura de um objetivo, de um motivo nem de um objeto de vontade. O que uma vontade quer é afirmar sua diferença. Em sua relação essencial com a outra, uma vontade faz de sua diferença um objeto de afirmação (DELEUZE, 1976. p.7).

Para afirmar o jogo então é preciso afirmar a vontade, vontade de jogar. Mas o que uma vontade quer? Vontade de jogo, vontade de vida, vontade de chance. Por mais vida na vida, vontade de potência. Afirmar a singularidade, sem com isso afirmar a individualidade: uma singularidade sempre está em jogo com outras, no jogo “maior” da vida. Apontamos um jogo que se joga junto, que vive junto, onde não há vencedor nem vencidos. É um jogo de resistência, que se opõe ao jogo da competição, ao jogo da repetição mecânica, da produção incessante numa maquinaria capitalista. Vontade que joga um jogo de variação cotidiana, que propõe-se desvios da rotina, da captura do sistema: não o nega, pois tudo inclui – e a negação não o tornaria inoperante. Jogador que joga desde o primeiro passo do dia, que não relega a ideia de jogo à uma prática de lazer, de válvula de escape para o estresse do trabalho, da vida. O escape é cotidiano, não é uma válvula: um escape a cada vez que percebe-se em via de ser capturado; é variação de si para não ser capturado pelas imagens, pelo discurso. Jogo sutil: estamos sempre sobre a malha complexa do discurso, em certa medida, estamos já, e desde sempre, capturados. É então que o jogo é sinônimo de dança: embaralhar os códigos, emaranhar as linhas, balançar as estruturas, deslocar o centro, rir de si, consigo e com os outros.

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