SALA DE ESTUDOS

[8] 03/08/2017 – 10/08/2017

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Notas que apontam para esta: [6] [14]

 

PESQUISA EM JOGO: MÉTODO, FANTASIA, PROBLEMA, HIPÓTESES E DELÍRIOS

Uma fantasia (ou pelo menos algo que chamo assim): uma volta de desejos, de imagens, que rondam, que se buscam em nós, por vezes durante uma vida toda, e frequentemente só se cristalizam através de uma palavra. A palavra, significante maior, induz da fantasia à sua exploração. Sua exploração por diferentes bocados de saber = a pesquisa. A fantasia se explora, assim, como uma mina a céu aberto. (BARTHES, 2003, p.12).

Nossa fantasia: o Corpo Potencial.

Um problema de pesquisa: como criar para si um Corpo Potencial?

Hipótese: o Corpo Potencial é um corpo improvisado, um corpo sempre em jogo com as forças que o afetam. Um corpo que compõe a si nesses encontros – onde o que difere um Corpo Potencial é a capacidade de produzir bons encontros em composições com aumento de grau de potência[1]. O Corpo Potencial seria um “terceiro” corpo entre o Corpo Sem Órgãos e o corpo estratificado: é o “Eu” a jogar com as tensões entre os estratos e o fora. Considerando a Educação como um espaço de encontros e potencialização de corpos, nossa hipótese se desdobra numa via prática para a criação de corpos potenciais: uma estratégia didática onde a pesquisa e a educação se afirmam como jogo e improvisação dos/nos corpos: encontros entre autor-pesquisador-educador, estudantes e currículo[2].

“É preciso deixar bem claro que, para que haja fantasia, é preciso haver cenário, portanto lugar” (BARTHES, 2003, p.14). Nosso lugar é um palco, um platô, um espaço de acontecimentos, de encontros e composições. Esse “lugar” se atualiza em três: o si, o texto e o corpus da Educação. Corpo que escreve e fabrica um corpo do texto sempre em processo, funcionando como peças de uma engenhoca, uma máquina despretensiosa voltada para um pensar em/na Educação – maquinaria que intenta inventar corpos potenciais:

[…] tudo isso na espreita da produção de exercícios que se entreveem em uma escritura que aponta para uma potência de ação alegre, ou seja, de um aumento do grau de potência em educação; autofabricação que procura agir como um dínamo para compor relações combináveis, composições de corpo-corpus. (ADÓ, 2013, p.27).

Nosso método: ensaiar neste palco-dissertação a criação de um corpo do texto, que, jogando com as matérias nos encontros dessa pesquisa, se compõe, em improviso, num Corpo Potencial: jogo-pesquisa em corpo-texto; Composições. Com isso, a própria pesquisa é o exercício da criação de corpos potenciais: o si do pesquisador e o corpo da dissertação – o primeiro a via de passagem e o segundo o registro dos efeitos desses encontros, dos devires. Em variação, numa pesquisa em Educação, versa sobre a ideia do jogo e o improviso nos processos em espaços de educação, e a educação como um certo modo de pesquisar e compor – incluindo, e sobretudo, compor a si.

Versões, variações, diversões num texto-dissertação que compõe-se na transcriação com as memórias e o informe engendradas nos pensamentos do pesquisador – e este como uma peça (des)importante dessa máquina de jogar: poderia ser um teatro do espírito, um teatro filosófico, um drama da educação, uma autocomédia do intelecto… nem um é, pode ser, transmuta-se, são corpos potenciais.

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[1] Nesta nota inicial, se faz mister definir dois pontos cruciais  – e aqui entra em cena um personagem central, Espinosa: o primeiro ponto refere o corpo do texto, que assim como o corpo humano comporta movimentos simultâneos em velocidades variáveis, para o qual a nota de rodapé não se restringe à menção, descrição ou complementação: além, produz sentido e efeitos paralelos “na medida em que as proposições e os escólios não andam no mesmo ritmo e compõem dois movimentos que se atravessam”  (DELEUZE, 2002, p.132). E, quanto ao Corpo Potencial autor-leitor-educador-estudante: “Será dito bom (ou livre, ou razoável, ou forte) aquele que se esforça, tanto quanto pode, por organizar os encontros, por se unir ao que convém à sua natureza, por compor a sua relação com relações combináveis e, por esse meio, aumentar sua potência. Pois a bondade tem a ver com o dinamismo, a potência e a composição de potências.” (DELEUZE, 2002, p.29).

[2] Entendendo essa improvisação como uma composição mais ou menos consciente com as matérias – corpos em extensão e pensamentos em jogo nesses espaços: “A ordem das causas define-se pelo seguinte: cada corpo na extensão, cada ideia ou cada espírito no pensamento são constituídos por relações características que subsumem as partes desse corpo, as partes dessa ideia. Quando um corpo “encontra” outro corpo, uma ideia, outra ideia, tanto acontece que as duas relações se compõe para formar um todo mais potente, quanto que um decompõe o outro e destrói a coesão de suas partes” (DELEUZE, 2002, p.25).

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