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[29] 29/09/2017

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Esse texto é uma epígrafe. Essa dissertação é uma epígrafe. Uma epígrafe de algumas páginas. Cada fragmento é uma epígrafe. A epígrafe é um corpo, o início de um corpo que sempre se inicia, a cada novo centímetro, nova pele, nova matéria, é sempre um recomeço de algo que nunca terminou[28]. Esse texto é uma epígrafe.

Esse texto é o esforço de um começo que está sempre em contato com o fim. Esse fim é uma fronteira, fronteira com o fora, com o desconhecido. Não sei o que vem na próxima linha. A próxima linha sabe, tão logo ela me conta, assim que ela surge[1 primeiro jogo em improviso]. Não sei e sei, assim que disse, sei e, quando digo, já não mais estou ali, já fui para a próxima linha[ ].

Essa fronteira não existe além dos meus limites, essa fronteira é uma abstração representativa dos limites[ ] do meu corpo: se existe um fora, sem embargo, existe um dentro. Mas e se passo para o lado de fora?

Quiçá, estou a citar esses encontros, a reescrever[poética da notação]. Estou a presentificar[ ], ou tateando algo e intentando presentificar-lo. Todavia, escrevo sobre encontros que não posso exatamente definir, ainda assim, em certa medida, os defino. Faço contatos. Minha pele e meu tato se modificam a cada toque. Mais do que isso, sou a pele excitada que transporta a citação. Mais do que um eu, excede, a pele.

Em seu emprego habitual, a citação não é nem o ato da extirpação, nem o do enxerto, mas somente a coisa, como se as manipulações não existissem, como se a citação não supusesse uma passagem ao ato. Na medida em que se ignora o ato, é a pessoa do citador que é ignorada, o sujeito da citação como transportador, negociante, cirurgião ou carniceiro. (…) Desaparece assim o sentido primeiro da citação, o de uma movimentação provocada por contato: sentido sempre atual, mas que vale a pena ignorar ou reduzir ao silêncio. A citação é contato, fricção, corpo a corpo; ela é o ato que põe a mão na massa – na massa de papel (COMPAGNON, 2007, p.36).

Papel da escrita: operar com as massas que compõe os corpos. Todo corpo possui uma massa. E toda massa é matéria. E toda matéria é energia. E toda energia é potência. Todo corpo é potência. E toda escrita é potencial.

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