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[49] 19/10/2017

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O Corpo Potencial é um corpo “vazio”. É um corpo disposto a ser um veículo. É um corpo em estado de espera, pronto para incorporar, para dar corpo ao que vem de fora, para se encontrar e se projetar nesse exterior. Improvisar. É um corpo que se oferece, que se entrega. E nisso não há nenhum tipo de martirização ou clichê místico: esse que se entrega, ao esquecer e se desprender do Eu, ao perder identidades, ganha nas possibilidades indefinidas da imanência, da multiplicidade enquanto substâncias, singularidade na qual se encontra, na qual se transforma, e num jogo no qual se permite entrar em composição. Não há, portanto, uma continuidade, um objetivo, um “vou me tornar isso”[ ]: aí uma dimensão da entrega ao inesperado, uma confiança de que meu corpo pode se tornar mais potente – e de que eu preciso permitir que meu corpo vá, e ir com ele, deixando um pouco de mim[ ].

Assim, a paciência reflexiva, sempre voltada para fora dela mesma, e a ficção que se anula no vazio em que ela deslinda suas formas se entrecruzam para formar um discurso que aparece sem conclusão e sem imagem, sem verdade nem teatro, sem prova, sem máscara, sem afirmação, livre de qualquer centro, apátrida e que constitui seu próprio espaço como exterior na direção do qual fala, fora do qual ela fala. […] A partir do momento, efetivamente, em que o discurso para de seguir a tendência de um pensamento que se interioriza e, dirigindo-se ao próprio ser da linguagem, devolve o pensamento para o exterior, ele é também e de uma só vez: narrativa meticulosa de experiências, de encontros, de signos improváveis – linguagem sobre o exterior de qualquer linguagem, falas na vertente invisível das palavras; e atenção para o que da linguagem já existe, já foi dito, impresso, manifesto. (FOUCAULT, 2001, p.226).

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