SALA DE ESTUDOS

[5] 27/07/2017 – 23/08/2017

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Notas que apontam para essa:

 

O Corpo Potencial é o Corpo sem Órgãos de Artaud, é o pré-individual de Simondon[1]: é o corpo intensivo que vibra sob os estratos – e sempre temos mais estratos, nunca paramos de ser estratificados. É a potência do corpo que não é (pré-individual), e tudo pode (intensidades do CsO). Não o poder do corpo que é, do sujeito que quer. Aqui então uma inversão da Educação: não se trata de reforçar os estratos com mais informações e modos, mas de rachar os estratos, de raspá-los, de permitir emergir o corpo que vibra e precisa de espaço para mover. É uma Educação do desfazer então, do desconhecer, do esquecer: é preciso menos para que o múltiplo possa ser afirmado, pois o múltiplo não é sinônimo de quantidade, enquanto algo que se tem, mas de possibilidade, enquanto algo que se pode. É passagem, condição para o devir.

Afirmação que não nega seu oposto, não há oposto: o corpo estratificado não se opõe ao Corpo Potencial, ainda que restrinja seu fluxo. O corpo estratificado é condição da existência: o organismo, a significância, a subjetivação[2]. Os estratos que nos permitem uma vida em sociedade. Mas e o que passa entre? O que não se vê entre o que se vê? O que não se ouve entre o que se ouve? O que não se sente entre o que se move? Sempre algo escapa a nossas percepções: o que o organismo não capta, o que a significação não possibilita, o que o sujeito não permite[3]

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[1] “Para explicar a gênese do indivíduo, com seus caracteres definidos, é necessário supor a existência de um primeiro termo, o principio, que traz em si o que explicará que o indivíduo seja indivíduo e dará a razão de sua hecceidade. Mas faltaria mostrar de maneira precisa que a ontogênese pode ter, como condição primeira, um termo primeiro: um termo já é um indivíduo ou, pelo menos, algo individualizável e que pode ser origem de hecceidade, que é possível converter em hecceidades múltiplas; tudo o que pode ser origem de relação já é do mesmo modo de ser que o indivíduo, quer seja o átomo, partícula insecavel e eterna, a matéria-prima ou a forma: o átomo pode entrar em relação com outros átomos pelo clinamen e constituir, assim, um indivíduo, viável ou não, a partir do vazio infinito e do devir sem fim” (SIMONDON, 2003, p.99).

[2] Nós não paramos de ser estratificados. Mas o que é este nós, que não sou eu, posto que o sujeito não menos do que o organismo pertence a um estrato e dele depende? Respondemos agora: é o CsO, é ele a realidade glacial sobre o qual vão se formar estes aluviões, sedimentações, coagulação, dobramentos e assentamentos que compõem um organismo – e uma significação e um sujeito. (…) Ele oscila entre dois pólos: de um lado, as superfícies de estratificação sobre as quais ele é rebaixado e submetido ao juízo, e, por outro, o plano de consistência no que ele se desenrola e se abre a experimentação” (DELEUZE; GUATTARI, 1996, p.19).

[3] “Por que não caminhar com a cabeça, cantar com o sinus, ver com a pele, respirar com o ventre, Coisa simples, Entidade, Corpo pleno, Viagem imóvel, Anorexia, Visão cutânea, Yoga, Krishna, Love, Experimentação. Onde a psicanálise diz: Pare, reencontre o seu eu, seria preciso dizer: vamos mais longe, não encontramos ainda nosso CsO, não desfizemos ainda suficientemente nosso eu. Substituir a anamnese pelo esquecimento, a interpretação pela experimentação. Encontro o seu corpo sem órgão, saiba fazê-lo, é uma questão de vida ou de morte, de juventude ou de velhice, de tristeza e de alegria. É aí que tudo se decide” (DELEUZE; GUATTARI., 1996,  p.10). E este que diz “vamos mais longe”, é o corpo potencial, este que cria e joga o jogo em improviso, pois “é aí que tudo se decide”.

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