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[6] 27/07/2017 – 23/08/2017

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Notas que apontam para esta: [8] [18]

 

Ao corpo estratificado então não nos opomos, não nos ressentimos. Nele estamos, com ele, e passamos. Produzimos então momentos de variação (e este produtor é o Corpo Potencial), como um abalo no solo do corpo estratificado, que permite “fluir” o CsO. Rompe-se a metaestabilidade do indivíduo. Trata-se então de olhar tanto para o CsO quanto para o corpo estratificado – e aqui chegamos à definição do Corpo Potencial que, assim esperamos, dará consistência a nossa tese [1].

O CsO é um corpo em potência, tal qual o pré-individual: são corpos de intensidades, de potências. Mas para pensar um Corpo Potencial precisamos do corpo estratificado – já que é impossível desviar dele: ao CsO nunca se chega, sempre terá um estrato sob o estrato e outros a serem produzidos. E é neste jogo que pretendemos propor a criação de um Corpo Potencial. É Dionísio que joga com Apolo. É Apolo que joga com Dionísio. Nesse jogo não há vencedor, os dois são um, e são dois. São múltiplos. É o jogador, o mágico, o dançarino, o guerreiro, o malabarista, o equilibrista, o compositor, o palhaço, e outros tantos. Jogo com as forças; composições heterogêneas; risos com os outros – os tantos que compõe o si[1]; danças em desvios contínuos da forma; equilíbrios instáveis sempre por se refazer – em instabilidade e desequilíbrios; golpes nos estratos e modulação de energias; a palavra mágica que faz aparecer e desaparecer, num jogo de foco e desfoco.

Trata-se então de um corpo que sobrevoa esse composto individuo/pré-individual, um transcendente imanente que percebe-se ao mesmo tempo sujeito e corpo intensivo. E entende tudo isso como um teatro, um teatro da existência. Não um teatro da representação, mas um palco no sentido da visibilidade, e de tornar visível – de criar, inventar o que pode se ver. De performar a vida. Um palco de cenas e de fazer encenar, de intensificar as energias, de compor matérias, de formar. Um palco onde sempre se ensaia, nunca se termina, pois cada fim é um recomeço.

Um palco para passar intensidades[2]. Um palco também para desconstruir, fragmentar, embaralhar os códigos. Palco como lugar de jogo: tudo são peças, peças parte de peças menores, e de outras peças ainda menores, e assim sucessivamente. Em direção oposta, podemos inventar uma peça cada vez maior, compondo em jogo, improvisando, peças com peças, uma maquinaria[3]: teremos então uma Peça de Teatro! O autor e diretor dessa peça é o Corpo Potencial – e ele é, ao mesmo tempo, a própria peça-máquina, maquina de guerra: corpo nômade em espera e movimento[4].

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[1] Ainda que se trate de uma dissertação, nos possibilitamos ter uma tese para que possamos rachar o estrato da dissertação com a produção de uma Dissertação Potencial (e o corpo enquanto escreve essas palavras ri de si mesmo – e do si ao ri basta um desvio de traço).

[2] “O CsO faz passar intensidades, ele as produz e as distribui num spatium ele mesmo intensivo, não extenso. Ele não é o espaço nem está no espaço, é a matéria que ocupará o espaço em tal ou qual grau – grau que corresponde às intensidades produzidas. Ele é matéria intensa e não formada, não estratificada, a matriz intensiva, a intensidade = 0, mas nada há de negativo neste zero, não existem intensidades negativas nem contrárias. Matéria igual a energia” (DELEUZE; GUATTARI, 1996. p.12).

[3] “O organismo é infinitamente maquinado, é máquina cujas partes ou peças são todas elas máquinas, é máquina apenas ‘transformada por diferentes dobras que ela recebe’. O organismo vivente, (…) em virtude da pré-formação, tem uma determinação interna que o faz passar de dobra em dobra ou que constitui máquinas de máquinas, até o infinito” (DELEUZE, 1991, p.9)

[4] “O nômade sabe esperar, e tem uma paciência infinita. Imobilidade e velocidade, catatonia e precipitação, ‘processo estacionário’, a pausa como processo. (…) O movimento designa o caráter relativo de um corpo considerado como ‘uno’, e que vai de um ponto ao outro; a velocidade, ao contrário, constitui o caráter absoluto de um corpo cujas partes irredutíveis (átomos) ocupam ou preenchem um espaço liso, à maneira de um turbilhão, podendo surgir num espaço qualquer. (Portanto, não é surpreendente que se tenha invocado viagens espirituais, feitas sem movimento relativo, porém em intensidades, sem sair do lugar: elas fazem parte do nomadismo.) Em suma, diremos, por convenção, que só o nômade tem um movimento absoluto, isto é, uma velocidade; o movimento turbilhonar ou giratório pertence essencialmente à sua máquina de guerra” (DELEUZE; GUATTARI, 1997. p.55).

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